25 janeiro, 2012

Planeamento e Gestão de Emergência



A todo o momento e em qualquer parte do mundo um acidente, uma catástrofe ou um desastre está para acontecer. Não podemos evitar mas podemos  prevenir!
Todas as situações de emergência (acidente, catástrofe, desastre) são o resultado de um conjunto de circunstâncias e condições pré-existentes. A preparação para a emergência constitui um dos elos mais importantes de sobrevivência. Desta forma, é importante o desenvolvimento progressivo de uma cultura de segurança, no sentido de mudar conhecimentos e comportamentos da sociedade. Esta acção envolve cada indivíduo enquanto agente activo de saúde e potencial vítima, entre outros.

Qual a melhor forma de gerir uma emergência?

A Universidade Lusófona e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) estabeleceram uma parceria, do qual resultou o I Programa de Formação Avançada em Planeamento e Gestão de Emergência, prevendo o seu início no dia 24 de Fevereiro de 2012. Trata-se de uma iniciativa que pretende funcionar como uma ferramenta de trabalho na mitigação, preparação e resposta a situações de emergência, desastre ou catástrofe, inspirada no programa "MENTOR e TEACH - VIP" do Departamento de "Violence and Injuries Prevention" da Organização Mundial de Saúde (OMS), destinada a todos os profissionais potencialmente implicados na intervenção e interessados na análise crítica do planeamento da emergência.

O Programa de Formação Avançada em Planeamento e Gestão de Emergência tem como objectivos a promoção, a aquisição de conhecimentos científicos e competências avançadas, no plano profissional, técnico e intelectual para o estudo e para a investigação no domínio da prestação de cuidados em emergência, bem como o desenvolvimento de aplicações e de práticas nesse domínio do conhecimento científico, facultando aos formandos competências profissionais, técnicas, intelectuais e pessoais que os preparem para tal. No final do curso os participantes deverão dispor dos conhecimentos e aptidões que os habilitem a contribuir para a melhoria da saúde e do sistema de saúde, nesta importante área de intervenção.


Para informação mais detalhada consulte o programa completo do evento.


22 janeiro, 2012

Agradecimentos

“A equipa não é um grupo subjugado pela necessidade ou pelo medo, nem uma clientela atraída por favores que qualquer potentado pode distribuir… A equipa é um grupo de homens unidos por um laço orgânico, isto é, pelo serviço duma obra ou duma causa comum, à qual testemunham igual dedicação e cujo esforço por ela exigido repartem segundo os dons, a capacidade ou os meios de cada um sem interesse de competição, rivalidade ou intrigas, ligados pelo resultado comum, não pelo êxito desta ou daquela aventura particular. Foi esta fórmula de todas as grandes empresas que fizeram as civilizações humanas.” (Lucien Romier)

Com esta publicação encerro o estágio que realizei no Centro de Saúde de Vila Real de Santo António. À chegada, encontrei uma atmosfera acolhedora e um grupo de trabalho confiante nas suas atitudes, características que me cativaram e me ajudaram a desdramatizar a distância da minha família. Aqui, senti-me em casa.

“Pegada Ambiental” foi o início da minha caminhada enquanto futura profissional/ técnica de saúde ambiental. A minha intervenção foi efectuada a diferentes níveis, tais como habitacional, escolar, industrial, serviços e comércio, assim como na qualidade ambiental (ar, alimentos, água, resíduos, solos, entre outros). Foi possível vivenciar os problemas resultantes dos efeitos que o ambiente exerce sobre o bem-estar físico e mental do ser humano mas também actuar, enquanto técnica de saúde ambiental, no controlo sanitário do meio ambiente detectando, identificando, analisando, prevenindo e corrigindo riscos ambientais para a saúde, actuais ou potenciais.

Para a concretização das actividades desenvolvidas, que me possibilitaram desenvolver um conjunto de competências contei com a colaboração dos elementos que constituem este grupo de trabalho. O tempo que passei na sua companhia contribuiu sobremaneira para o meu crescimento pessoal e profissional, graças ao companheirismo de todos. Agradeço-vos a disponibilidade, a dedicação, a cedência de material documental, o carinho, o apoio e oportunidade que me foram concedidos. Um muito obrigado, às Técnicas de Saúde Ambiental, Eduarda Gonçalves, Sandra Faísca, Sofia Duarte, ao Delegado de Saúde Adjunto Dr. Carlos André, a Higienista Oral Isabel Palma, a Assistente Social Manuela Gonçalves, a Enfermeira Assunção Pereira e a Fisioterapeuta Flávia Oliveira. Gostei muito de vos conhecer e levo-vos no meu coração! 







Ixodídeos (carraças)

Os ixodídeos, também designados por carraças, encontram-se entre os mais importantes vectores de agentes de transmissão de doença nos animais e no Homem. Os ixodídeos (carraças) são considerados uns dos artrópodes mais importantes associados à transmissão de agentes infecciosos, a seguir aos mosquitos.
A presença das carraças ocorre durante todo o ano, sendo que existem espécies de carraças que estão mais activas no Verão, Rhipicephalus sanguineus e Hyalomma sp., e outras mais activas no Inverno, Ixodes ricinius e Dermacentor reticulatus.
Os ixodídeos necessitam de condições favoráveis ao longo do todo o ciclo, sendo que as condições de humidade são importantes e distintas consoante a espécie e estádio de desenvolvimento. Estes possuem a capacidade de entrar em estado de incubação/diapausa permitindo-lhes uma maior resistência a condições de seca extrema, bem como de variações de temperatura e também a capacidade de absorção da humidade do ar. Para além disso, um aspecto importante é a sua distribuição no terreno, as carraças tendem a concentrar-se em locais de passagem de animais ou pessoas de maneira a facilitar o alcance de hospedeiros para a realização de refeições de sangue.
As carraças são ácaros, parasitas obrigatórios que têm de parasitar um hospedeiro e efectuar uma refeição de sangue para completarem o seu ciclo de vida. Assim, estes apresentam duas fases de vida distintas: a fase de vida livre, localizando-se no solo ou vegetação e a fase de parasitismo,  durante a qual efectua a refeição de sangue, ou seja, são parasitas não permanentes de vertebrados. (Figura 1)


Figura 1 – Fases do ciclo de vida de uma carraça. Adaptado de http://mypuppycare101.com/members/puppy-health/externalparasites/ticks/.

Os ixodídeos apresentam quatro fases, ao longo do seu ciclo de vida, que têm uma duração entre três meses a três anos, constituído pelos seguintes estádios de desenvolvimento: Ovo, Larva, Ninfa e Adulto. (Figura 2)

Figura 2 – Ciclo de vida das Carraças. Adaptado de http://www.jvopweg.nl/TestVersie/ixodidae&page=3

A postura dos ovos é numerosa e é realizada no solo, seguindo a sua eclosão para larva, possuindo apenas três pares de patas e, a partir desse estádio, a progressão é realizada a partir de mudas. Após a primeira muda surge a ninfa que possui quatro pares de patas mas que se distingue das fêmeas por não possuir nem áreas porosas nem orifício genital desenvolvido.
No estádio adulto já existe dimorfismo sexual, sendo que as patas possuem seis segmentos, dos quais cinco estão livres e um se insere na superfície ventral.
Para que ocorram as mudas, é necessário que haja refeição de sangue no hospedeiro, ou seja, a fase parasitária inicia-se na fase larvar e não unicamente na fase adulta, como acontece com outros artrópodes, como por exemplo o mosquito.
É na fase parasitária que poderá ocorrer a veiculação de agentes patogénicos, caso a carraça esteja infectada, sendo que tem capacidade de veicular bactérias, arbovírus e protozoários.
No sentido de detectarem a presença do possível hospedeiro, tem um sistema sensorial que lhes permite detectar variações de concentração de CO2, temperatura, vibração, entre outros.
A picada da carraça não resulta inequivocamente na transmissão de doenças infecciosas ao hospedeiro. Para tal é necessário, por um lado, que a carraça esteja infectada e, por outro, que a quantidade de saliva da carraça injectada no hospedeiro seja suficiente para que haja carga infecciosa mínima.
Na detenção da presença da carraça é importante removê-la de forma eficaz, pelo hipóstoma (peça bocal) da carraça (ao mais próximo da pele possível) sem a destruir, com o auxílio de uma pinça, rodar ligeiramente e puxar com cuidado. É importante não libertar o conteúdo da carraça no local da picada e não aumentar o seu stress, pois isso resulta numa maior libertação de saliva para o hospedeiro.
Em Portugal, os ixodídeos foram identificados como tendo a capacidade vectorial para transmitir diversos agentes etiológicos de doenças humanas, tais como, Doença de Lyne, febre escaro-nodular, febre Q, tularémia, anaplasmose, entre outras. Destas, destacam-se a Doença de Lyne e a febre escaro-nodular por terem maior impacto na Saúde Pública.


Vigilância, Prevenção e Controlo
As alterações ambientais, comportamentais e sociais têm determinado a distribuição e disseminação das espécies de vectores pelo mundo e também a introdução de doenças infecciosas. Para minimizar/reduzir o risco das doenças transmitidas por estes vectores, a medida mais eficaz e a prevenção da picada é pela redução da densidade de vectores. Existem inúmeras acções que podem ser implementadas seja o método químico, físico ou biológico.
O método químico baseia-se na utilização de produtos bioácidas, nos banhos de animais potencialmente hospedeiros (gado e animais domésticos), pulverização de superfícies, utilização de coleiras e outros produtos repelentes.
O método físico consoante o objectivo pretendido poderá controlar as populações de roedores próximo das habitações, pela remoção de pilhas de lenhas e outras acumulações de objectos, reduzindo assim os hospedeiros vertebrados, rotação das pastagens originando a interrupção do ciclo de vida da carraça, limpeza e aragem de terrenos abandonados e utilização de vestuário adequado na deslocação em espaços rurais, reduzindo a área exposta e posterior inspecção minuciosa de roupa e corpo.
O método biológico compreende a colocação de predadores naturais nos terrenos ou explorações agrícolas ou a administração de vacinas.

A vigilância permite constatar qualquer alteração na abundância, na diversidade, que detectada, possibilita a tomada de medidas e emissão de alertas pela Autoridade de Saúde. Assim, a vigilância tem como objectivos:
- A realização de levantamento de espécies de vectores de ixodídeos presentes na região;
- Registar a sua densidade populacional;
- Vigiar a introdução de espécies exóticas;
- Verificar a presença de agentes etiológicos em circulação;
- Identificar focos de infecção e/ou factores de risco.


Colheita de Carraças

Pretende-se que as amostras incluam carraças na fase livre, colhidas no ambiente, e carraças na fase parasitária, tanto em animais como em humanos, sendo a técnica de colheita distinta.

Material para colheita de carraças na fase livre


Colheita de carraças na fase livre
Esta operação comporta a vigilância de todos os habitats possíveis de se encontrarem contaminados por carraças, e para tal, é necessário conhecer detalhadamente o terreno e meios de transporte adequados para se proceder a colheita de carraças.
Para realizar esta colheita é necessário reduzir a área de pela exposta, utilizando o fato de protecção individual branco, o cabelo deve estar apanhado e coberto. A colheita das carraças na fase livre é realizada na vegetação pelo método de arrastamento da bandeira que consiste na passagem de um pano turco, de cor branca sobre a vegetação a uma velocidade constante em linha de aproximadamente 100 metros. A cada cinco passos é necessário verificar se existem carraças agarradas ao pano turco para evitar que se soltem. Perante a sua colheita é necessário registar a localização da colheita (coordenadas), condições atmosféricas, temperatura e humidade ambiente no boletim de colheita. (Figura 3) No fim da colheita deve-se inspeccionar a roupa e o corpo e o pano turco branco deve ser lavado sem adição de detergente, na máquina, à temperatura entre os 40º e 60ºC.


Figura 3 – Procedimentos da colheita de Carraças na fase livre


Material para colheita de carraças na fase de parasitismo

Colheita de carraças na fase de parasitismo
Durante a fase parasitária os ixodídeos encontram-se fixados nos hospedeiros e nem sempre é fácil a sua remoção. É necessário utilizar luvas para a recolha das carraças para evitar o contacto directo com a pele. Deste modo, deve-se prender a carraça com uma pinça, junto ao local de inserção na pele quanto possível, rodando ligeiramente a carraça para soltar o hipóstoma (peça bocal) e puxá-la com cuidado até que se solte. (Figura 4) Caso o hospedeiro seja uma pessoa, deve-se desinfectar o local da picada e se houver indícios de febre, manchas na pele, dores musculares, deve-se consultar um médico. Após a sua colheita deve-se preencher o boletim de colheita de ixodídeos.

Nota: Evitar envolver a carraça em qualquer substância (azeite, óleo ou álcool), aproximar fonte de calor ou perfurar a carraça.

Figura 4 – Técnica de remoção de carraças no hospedeiro. Fonte: http://lymedisease-symptoms.net/tick-removal


Acondicionamento das amostras de colheita de carraças
Após a colheita dos ixodídeos, deve-se colocá-las em tubos rolhados ou copos, que contenham algumas ervas para manter a humidade. O número máximo de carraças que se deve por em tubos é de 20, não ingurgitadas, por local de colheita e 10 carraças ingurgitadas por hospedeiro. Cada tubo ou copo deve ser identificado, de acordo com o boletim de colheita de ixodídeos. Após a sua colheita e preenchimento do boletim, estes devem ser colocados numa caixa de esferovite com refrigeração, com selagem reforçada e enviada para a CEVDI/INSA. Deve-se enviar uma cópia dos boletins de colheita de ixodídeos para o Departamento de Saúde Pública. (Figura 5)

Figura 5 – Boletim de colheita de ixodídeos

Em suma, os ixodídeos (carraças) são agentes de doença e causadores de enormes prejuízos ao nível das explorações pecuárias e de Saúde Pública. Apesar de ser impossível erradicar as carraças, podemos tomar medidas de controlo e de luta contra as carraças que impeçam a disseminação de pragas e o estabelecimento de novos focos de doença.


Insectos


Figura 1 – Mosquito

Os artrópodes (insectos) já transmitiram inúmeras doenças, tais como, a malária, dengue e febre-amarela, que constituíram graves problemas de saúde pública na Europa. (Figura 1) Apesar, destas doenças já terem sido erradicadas da Europa em meados do século XX, continua a existir, em muitas zonas as espécies de mosquitos responsáveis pela transmissão destas patologias.
Grande parte das doenças transmitidas pelos vectores exibe um padrão sazonal distinto, o que indica que os parâmetros climáticos são importantes na epidemiologia das doenças transmitidas por estes. A temperatura, precipitação, humidade e a velocidade e direcção do vento influenciam fortemente a ecologia, desenvolvimento, comportamento e sobrevivência dos vectores e hospedeiros, e consequentemente a dinâmica da transmissão da doença.
Visto que, para muitas doenças transmitidas por vectores ainda não existe vacina eficaz que permita preveni-las, ou ainda, não existe um tratamento específico para cada uma, a forma mais eficaz de minimizar o risco de uma doença emergente ou de evitar casos de animais e humanos infectados, é através da redução ou eliminação dos vectores (mosquitos ou outros insectos).
Desta forma, as autoridades e a população em geral terão que encarar os mosquitos não apenas como factor de mera incomodidade, mas como efectivos vectores de doenças emergentes, por vezes com consequências graves para a saúde e, como tal, à que agir em cooperação conjunta, no sentido de controlar de forma eficaz as populações de vectores de doenças.

As Técnicas de Saúde Ambiental têm como objectivo:
- Prevenir e controlar os vectores possíveis de transmissão de doença;
- Identificar e monitorizar locais potenciais para a criação e proliferação de vectores, nomeadamente, lagos, lagoas, zonas pantanosas, charcos, valas ou outras zonas de água estagnadas e/ou poluídas;
- Programar a monitorização dos locais potenciais de criação identificados, em conjunto com as entidades intervenientes no controlo de vectores, no sentido de constatar as condições existentes que indicam o desenvolvimento de populações de mosquitos (presença de larvas, condições de escoamento e origem da água);
- Registar as acções de controlo previamente realizadas em cada local (frequência de aplicação de larvicida, regularização do leito de escoamento e limpeza das margens, entre outros);
- Determinar medidas que visem a sua eliminação ou que reduzam as condições para a deposição de ovos e criação de mosquitos;
- Sensibilizar as Autarquias para que desenvolvam planos e actividades;
- Informar a população sobre formar de prevenção da infecção por vectores (mosquitos).


Ciclo de vida dos Vectores

O ciclo de vida dos mosquitos é constituído por uma fase aquática – ovos, larva e pupa e uma fase aérea correspondente ao mosquito adulto. (Figura 2)


Figura 2 – Ciclo de vida do mosquito

A presença de água é fundamental para a existência de mosquitos, uma vez que é o meio pelo qual se completa o ciclo evolutivo. A temperatura é fundamental para o desenvolvimento mais rápido e aumento dos descendentes, desde que esteja entre os 25ºC e os 30ºC, pelo que a população tende a aumentar nas épocas de Primavera e Verão.
O ciclo de vida dos mosquitos apresenta metamorfose completa, com um estádio de ovo, quatro estádios de larva, um estádio de pupa e adulto (Figura 3).

Figura 3 – Estádios do ciclo de vida do mosquito

A postura dos ovos decorre na superfície da água ou em solo húmido que, embora não tenha água, poderá posteriormente ser inundado. Podem ser depositados mais de cem ovos por postura.
Os ovos dos mosquitos têm grande poder de resistência a longos períodos de dissecação e a temperaturas extremas, que poderão compreender entre cerca de -15ºC e os 48ºC.
A escolha do local para a oviposição pelas fêmeas é o factor determinante para a distribuição das larvas de mosquitos e várias espécies de mosquito têm locais de escolha específicos.
Na maioria das espécies de mosquito, as larvas estão restritas a ambientes de água doce, mas algumas podem tolerar ambientes aquáticos muito poluídos e outras estão adaptadas a elevada salinidade da água. São poucas as espécies que se desenvolvem em sistemas aquáticos permanentes (lagos e reservatórios). Estes habitats são normalmente fundos, muito abertos e não providenciam protecção a predadores de larvas de mosquitos, como peixes que podem estar presentes. Pelo contrário, as larvas da maioria das espécies desenvolvem-se em sistemas aquáticos temporários como margens abrigadas de rios, bebedouros de gado, recipientes abandonados, pneus ao ar livre, canais de irrigação, poças de neve derretida, arrozais e sapais.
As larvas de mosquito raramente são encontradas em águas correntes. Exigem normalmente águas paradas e pouco profundas. A embriogénese ocorre depois da oviposição.
Após alguns dias, uma pequena larva nasce do ovo. Sofre três mudas durante o seu desenvolvimento, até atingir o 4º estádio de larva, que alguns dias depois se transforma em pupa. As larvas de mosquitos não sobrevivem a temperaturas entre os 5ºC e os 8ºC.
O tempo necessário para a eclosão do ovo e desenvolvimento dos vários estádios larvares e pupa depende de vários factores físicos, sendo o mais importante a temperatura.
A pupa não se alimenta e é muito activa. Tem uma característica forma de vírgula e corresponde ao último estádio imaturo antes de mosquito adulto, que eclode directamente da pupa.
O tempo necessário para o desenvolvimento do ovo ao adulto pode ser inferior a dez dias em determinadas localizações geográficas e espécies.
Os machos acasalam com as fêmeas na proximidade do criador, muitas vezes formando enxames sobre os locais com água onde as fêmeas vão eclodir. De entre a população de mosquitos, são as fêmeas que efectuam a refeição de sangue, para possibilitar a postura de ovos, ao passo que os machos se alimentam de néctares.
As fêmeas adultas, já fecundadas, podem voar vários quilómetros para efectuarem uma refeição sanguínea ou uma postura de ovos. Após a refeição sanguínea, a fêmea tem nutrientes suficientes para desenvolver os ovos. O ciclo contínua com a oviposição num criadouro. As fêmeas podem ter vários ciclos gonotróficos, efectuando assim várias refeições sanguíneas e várias posturas por ciclo de vida.

Colheita de vectores (mosquitos)

Ovos

Material
- Vasos ou recipientes pretos de plástico;
- Régua ou ripa de madeira revestida por tecido vermelho vivo ou branco.

A colheita de ovos pode ser efectuada no habitat natural ou através de dispositivos artificiais. Podem ser utilizados vários utensílios que permitam colectar um determinado volume de água que contenha ovos e outros estádios imaturos, como colheres, caços, rede de malha apropriada, passadores, que estejam apropriados à colheita no meio aquático em questão.
Os dispositivos artificiais são armadilhar de oviposição, destinadas à postura de ovos de fêmeas grávidas. Estas armadilhas são muito úteis em estudos epidemiológicos e ecologia de população e podem capturar a fêmea grávida ou deixá-la escapar, apenas retendo os ovos. As armadilhas consistem recipientes de água de plástico (balde) ou de outros materiais onde deve ser cheios até meio com água sem cloro e colocado numa zona pouco ventosa com vegetação ou cobertura urbana. Deve-se colocar alguma matéria orgânica (folhas em decomposição ou um pouco de solo) de modo a que a água não fique turva. A cor e contraste são importantes para atrair mais efectivamente algumas espécies. Por exemplo, o contraste preto/branco ou preto/vermelho adequado à captura de ovos de várias espécies. Seguidamente, coloca-se a régua ou ripa de madeira de forma a ficar com uma parte imersa e outra descoberta com o tecido húmido. Ao longo do tempo, deve-se vigiar a presença de ovos na superfície da régua ou nas paredes do vaso. Os ovos ou larvas devem ser cuidadosamente retirados e transferidos para um frasco de envio. Por fim deve-se registar o local e a data da recolha bem como outros dados que possam ser relevantes.


Larvas e Pupas

Material
- Caço de colheita, colheres outro material de colheita;
- Frasco ou garrafas de recolha;
- Vestuário adequado.

O dispositivo padrão para a captura de larvas e pupas é o caço. Muitos outros materiais podem ser utilizados, como foi referido anteriormente para a colheita de ovos.
No local aquático deve-se procurar e pesquisar a presença de larvas, caso exista, deve-se proceder à colheita e à transferência do material para os frascos ou garrafas de recolha. O caço deve ser cuidadosamente e lentamente submersos em água para evitar perturbação, percorrendo a superfície. Ao ser levantado deve ser examinado para a presença de larvas, as quais são transferidas para os frascos ou garrafas de recolha. O boletim de colheita de larvas tem que ser preenchido para cada local e data e caso necessário outros dados que possam ser relevantes.




Adultos

Material
- Armadilhas e recipientes colectores;
- Baterias carregadas;
- Gelo seco e recipientes (sacos, jornais ou frascos de plásticos);
- Termómetro, higrómetro e GPS.

Vários métodos de captura e armadilhas podem ser usados para mosquitos adultos. O sexo, a espécie e o estado fisiológico influenciam determinantemente o resultado do esforço de captura. (Figura 4)

Figura 4 - Armadilha

Os adultos de muitas espécies de mosquitos são inactivos durante o dia, encontrando-se em repouso em lugares escuros, frescos e húmidos, enquanto, outras espécies têm actividade diurna ou apenas crepuscular. As populações em repouso, que são encontradas na vegetação, no interior de casas, estábulos, grutas podem ser colhidas com o uso de aspiradores. Os mosquitos com actividade crepuscular e nocturna podem ser capturados com armadilhas luminosas do tipo CDC (Centers for Disease Control). Há uma grande variedade destas armadilhas, em que algumas funções estão disponíveis, como serem providas de uma foto sensor que permita que o sistema eléctrico só funcione entre anoitecer e o amanhecer e/ou de um dispositivo de libertação de CO2, um agente atractivo que simula, deste modo, a libertação de CO2 pela respiração animal, facilitando e aumentando a eficiência ou especificidade de captura. Para os mosquitos diurnos podem ser utilizadas armadilhas do tipo CDC, em que os principais atractivos sejam CO2 e o contraste da cor. O CO2, usado nas sessões de captura, é obtido pela sublimação do gelo seco, que se pode adquirir comercialmente. O gelo seco pode ser envolvido em folhas de jornal ou termos com a rolha ou tampa semi-apertada, e colocado perto da armadilha. (Figura 5)


Figura 5 – Gelo Seco

Esta metodologia exige que se coloquem as armadilhas no final da tarde e se levantem no inicio do dia seguinte. Caso sejam providas de foto sensor e a bateria de alimentação tem capacidade para várias noites de captura é possível montar as armadilhar e levantá-las após vários dias.
No entanto, o estudo de vectores (mosquitos) exige que os mosquitos cheguem vivos ao laboratório o que limita os dias em que as armadilhas ficam no campo sem serem levantados os mosquitos capturados, pois a taxa de mortalidade na armadilha pode ser elevada e amostra ficar inviável para a detecção de artrópodes.
Desta forma, deve-se colocar a armadilha com o saco colector e ligar à bateria, verificando várias vezes se as portas metálicas basculantes se encontram na posição fechada e testando a sua abertura e fecho. Seguidamente deve-se colocar o recipiente de gelo seco na proximidade da armadilha o termómetro e higrómetro. Por fim, deve-se tirar as coordenadas GPS e apontar os dados no boletim de colheita, bem como as temperaturas (máximas e mínimas) e outras observações que possam ser importantes.
Na minha seguinte recolhe-se com cuidado o recipiente colector, evitando as fugas dos insectos capturados e transporta-los para o laboratório.


Envio das Amostras

As amostras dos ovos, larvas e pupas podem ser enviadas em frascos ou garrafas de plástico. Os frascos ou garrafas de transporte devem utilizar água do meio de colheita e só devem ser fechados no momento do envio das amostras e se possível numa caixa térmica com um termoacumulador.
As amostras dos mosquitos adultos colhidas nas armadilhas tipo CDC deverão ser recolhidas na manhã do dia seguinte à colocação. O calor excessivo mata os mosquitos. As formigas são potenciais predadoras dos mosquitos e facilmente detectam e invadem a armadilha destruindo a amostra. Os copos colectores devem ser transportados cuidadosamente para uma instalação refrigerada. Para transferir para os tubos de transporte, os copos colectores devem ser colocados num refrigerador (frigorifico comum a 4ºC) cerca de trinta minutos para anestesiar os mosquitos. Para a transferência pode usar-se um aspirador eléctrico ou simplesmente por passagem directa do copo colector para o tubo de transporte. O número de colheita, o colector, o local e a data devem ser registados directamente no copo ou numa etiqueta. Se a amostra não for enviada no próprio dia recomenda-se mantê-la num lugar fresco ou no refrigerador. Para o envio, as amostras devem ser bem acondicionadas numa caixa térmica com um termoacumulador por correio ou transporte especial.


Vigilância, Prevenção e Controlo de Vectores

O controlo de populações de vectores (mosquitos) começa com programas de identificação das espécies de uma determinada área, com o estudo cartográfico e ecológico da área e o levantamento de todos os potenciais criadores, para finalmente se reunirem as condições necessárias a uma intervenção eficiente.
O controlo dos mosquitos, deve ter em conta o ciclo biológico, sendo que, os maiores esforços no controlo das populações deve-se aplicar no estádio aquático de ovo, larva e pupa.
Existem quatro métodos de controlo de mosquitos, sendo estes, métodos de controlo físico, químico, biológico e educacional. Cada vez mais se tem utilizado métodos de controlo físico e biológico em substituição aos métodos de controlo químico.

Controlo Físico – Este método pretende reduzir a densidade populacional de mosquitos e impedir o contacto com a população humana através da eliminação dos seus criadores. Exige um conhecimento detalhado da área de trabalho, do ciclo de vida das espécies presentes e uma coordenação organizada entre as entidades interessadas e os responsáveis pelo programa de controlo.
Os exemplos mais comuns de controlo físico são:
- Limpeza de canais de drenagem de água;
- Eliminação de recipientes abandonados ao ar livre;
- Manutenção de poços e fossas sanitárias;
- Gestão de inundações de finalidade agro-pecuária;
- Gestão de zonas húmidas.

Controlo Químico – O controlo químico foi o método mais aplicado na luta contra os mosquitos e consiste na aplicação de pesticidas de origem sintética em populações de larvas e de adultos. Nas últimas décadas os larvicidas, agentes organofosforados, têm sido substituídos por produtos biológicos. Relativamente aos adulticidas não foram encontrados substitutos biológicos e continuam a usar-se agentes organofosforados, com o malatião e outros piretroides.

Controlo Biológico – O controlo biológico envolve a utilização cuidada de um predador, agente patogénico, parasita, competidor ou toxina produzida por um microrganismo para reduzir a densidade de uma população alvo. As vantagens desta metodologia são os reduzidos efeitos nefastos no ecossistema, relativamente aos insecticidas convencionais, e a alta especificidade com que se ataca a população alvo a controlar. Actualmente, os métodos mais conhecidos de controlo biológico utilizam produtos baseados em bactérias tóxicas para os mosquitos, como o Bacillus thuringiensis. Estas bactérias têm proteínas que em contacto com o sistema digestivo das larvas provocam a destruição do tecido e a morte da larva. A aplicação destes produtos é feita segundo a mesma metodologia que se usa com produtos químicos, havendo empresas especializadas no seu fabrico e produção. Outro método de controlo biológico é a colonização com peixes predadores, como a Gambusia.

Campanhas Educacionais – As campanhas educacionais promovem a divulgação de informação sobre como evitar a proliferação dos mosquitos. As campanhas de sensibilização da população promovem a aquisição de um maior conhecimento das características dos mosquitos, embora o êxito destas campanhas seja difícil de avaliar. As medidas mais frequentemente apresentadas à população são:
- Não deixar recipientes abandonados;
- Não armazenar água em recipientes ao ar livre se não estiverem perfeitamente tapados ou se não circular água regularmente;
- Colocar peixes em fontes ou piscinas ornamentais;
- Fazer regularmente a manutenção de poços e estruturas similares.


Na ausência de uma vacina humana eficaz, a prevenção da infecção por vectores (insectos) nos seres humanos, baseia-se em duas estratégias fundamentais:
- Redução de densidade populacional de insectos vectores;
- Prevenção da picada dos insectos em humanos.

As medidas preventivas de protecção individual mais eficientes para evitar a picada de mosquitos são:
- Aplicar repelentes de insectos com DEET na pele exposta, especialmente nos dois períodos de maior actividade dos mosquitos, anoitecer e amanhecer;
- Reduzir a área de pele exposta, vestindo de preferência roupa de mangas compridas, calças compridas e meias;
- Utilizar redes mosquiteiras;
- Utilizar incensos repelentes e insecticidas domésticos de acordo com as instruções do fabricante.